Ocorre que uma coisa era aquele artigo num ambiente de certa desmemória, como se a patuscada golpista de 8 de janeiro de 2023 tivesse se perdido nas dobras do tempo; outra, bem distinta, é lê-lo à luz do atentado. A prudência recomendaria que ficasse em silêncio. Mas, alçado a pensador, houve por bem se embrenhar na mata, para ele sempre escura, da reflexão.
Produziu, então, o que segue em vermelho, na pontuação original, com comentários meus em negrito.
Pela pacificação
Lamento e repudio todo e qualquer ato de violência, a exemplo do triste episódio de ontem na Praça dos Três Poderes.
Quem não lamentaria, não é? Sendo impossível a hipótese do aplauso, dispensa-se a lamúria formal e obsequiosa. Adiante.
Apesar de configurar um fato isolado, e ao que tudo indica causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão.
Opa! Os atentos ao estilo sabem que é preciso tomar cuidado quando um período começa com uma oração adversativa: “apesar de configurar…” Trata-se, não raro, de uma tática diversionista. O que realmente interessa vem nas outras orações que com ela formam uma unidade: “é um acontecimento que nos deve levar à reflexão”. Huuummm… “Que nos deve levar”, é? Com essa anteposição do pronome? Seu “ghostwriter” tem alguma ambição de refinamento intelectual, embora possa ser um tanto imprudente.
Nas orações intercaladas, há a afirmação, sem que se conheça a fonte, de que “Tiü França” tinha os parafusos soltos. Quem disse? Só se for o trema no “Tiü”… Já cheguei a achar que ser bolsonarista era um sintoma. Eu estava errado. Não raro, é só um traço de caráter. O remédio é bem mais difícil.
Voltemos ao conjunto relevante: “Apesar de configurar um fato isolado, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão”.