Ednéia Carvalho, mulher do ex-ministro Silvio Almeida, usou as redes sociais para falar que não tem sido fácil “conviver com a injustiça”, em referência às acusações de assédio que pesam contra seu marido. Ela reclama que o feminismo não a acolheu e que pautas sérias têm sido banalizadas por interesses pessoais.
Não cabe ao feminismo se contrapor a denúncias de violência contra mulher ou de blindar mulheres indiretamente afetadas, mas a declaração de Ednéia mostra o sofrimento real de alguém que acreditou que “ninguém solta a mão de ninguém” e se viu abandonada por grande parte dos movimentos aos quais acredita pertencer. Há um ponto em seu desabafo que converge com outras discussões atuais.
Uma parte importante da sociedade não se vê representada pelo feminismo mainstream, sequestrado pela militância de esquerda, que despreza a pluralidade de pensamento, a variedade de experiências, contextos sociais e realidades vividas, virando as costas para aquelas que não abraçam a cartilha identitária, que reforça estereótipos infantis de que feministas são amargas, peludas, de cabelo azul e pregam que todo homem é um estuprador em potencial.
Ednéia Carvalho tem razão ao dizer que pautas sérias têm sido banalizadas por interesses pessoais. O feminismo vigente, abraçado por parte do jornalismo, de páginas nas redes e de autodeclaradas ativistas se afastou da base, de mulheres de classes menos favorecidas, pouco inseridas no debate de gênero.
O que temos é um clubinho elitista, que virou fonte de renda de ditas ativistas que prontamente encaixotaram o discurso de empoderamento para dar lugar a uma atitude fatalista, enquanto ganham dinheiro com posts, palestras e publicidade nas redes sociais, sem dar soluções para nenhum dos problemas.
Enquanto empoderam suas contas bancárias, martelam na cabeça das mulheres cada vez mais amedrontadas, que o mundo é um lugar horrível, e de fato é, que fomos criadas para sermos submissas, que não somos aceitas em espaços historicamente masculinos, que homem nenhum presta. Parte disso é verdade, mas a manutenção da ideia de que esse status quo não tem mudado, de que não há avanços importantes, principalmente entre mulheres privilegiadas por algo que de fato empodera: informação.
Cada vez que vejo uma feminista que faz parte da fatia dos 10% mais ricos do país dizer que tem medo de andar na rua, penso: meu anjo, você anda de Uber Black. Enquanto fala das suas dores classe média alta e ganha likes no Instagram, 100% das mulheres de baixa renda vivem atormentadas pela real possibilidade de enfrentar assaltos, estupros, importunação sexual sempre que põe os pés na rua.
Enquanto muitas mulheres começam a abraçar o feminismo porque entendem que não é um movimento para resolver questões individuais, o ativismo reinante está cada vez mais elitista, com cara de seita que escolhe quem acolhe, quem protege e quem pode ser deixada pelo caminho. Decidiu pelo justiçamento em detrimento da justiça, com condenações sumárias. O efeito rebote está servido: o crescimento do antifeminismo que se firma como resistência a um movimento que sempre existiu pela igualdade de gênero, por lutas coletivas, mas está cada vez mais com cara de clubinho elitista fincado no capitalismo de ocasião.
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