YURI EIRAS E ITALO NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
Os familiares da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes comemoraram nesta quinta-feira (31) no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a condenação dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelo homicídio dos dois, em março de 2018.
Eles acompanharam do plenário todos os dois dias de julgamento. Após choros, abraços e conforto mútuo ao longo das cerca de 32 horas de sessão, eles declararam ver justiça na sentença proferida pela juíza Lúcia Glioche, do 4º Tribunal do Júri.
“A gente responde com muita força, afinco e responsabilidade. Enquanto tiver sangue correndo nas nossas veias, enquanto estivermos vivos vamos defender o legado de Marielle e Anderson. As pessoas precisam parar de normalizar os corpos que caem nesse país”, disse a ministra Anielle Franco (Igualdade Racial), irmã de Marielle.
“A gente sempre falou desde o começo que a gente não ia desistir e parar enquanto a justiça não fosse feita. Foram muitos dias, noites, anos cuidando dos meus pais, numa dor que não tem nome. O maior legado da Marielle para o país é a prova de que pessoas negras, favelas, mulheres merecem permanecer viva.”
A vereadora Mônica Benício, viúva de Marielle, elogiou o duro discurso da juíza Glioche contra Lessa e Queiroz, bem como a menção aos familiares, tratados como vítimas do homicídio que permenceram vivas.
“O discurso feito na sentença fez jus ao que representa. Marielle foi assassinada pelo que defendia. Não há justiça possível. Mas esse é um marco para que nunca aconteça mais. Esse é o principal recado. Marielle presente é levar sua memória adiante para derrotar o mal”, disse ela.
Marinete da Silva, mãe da vereadora, disse que o resultado não era esperado apenas pelos familiares, mas por toda a sociedade. “Não só eu enquanto mãe, mas o Rio, o Brasil e o mundo esperávamos por isso. São seis anos lutando e nunca paramos de acreditar. Eles, sim, têm que pagar.”
Antônio da Silva, pai de Marielle, disse que a mobilização da família não se encerra com o julgamento.
“Nossa luta começa no dia 15 de março e ecoou. Quem matou Marielle e Anderson? Essa foi a primeira pergunta. Nós tivemos a resposta com a condenação dos réus confessos. Era de suma importância a condenação deles. Mas isso não acaba aqui porque tem mandantes”, disse ele.
“Agora a pergunta é quando serão condenados os mandantes. Aquele choro que exibem nas oitivas não é um choro sincero. Choro sincero foi o nosso. Podemos até dar o perdão a eles. Mas eles não estão arrependidos. Marielle e Anderson não vão voltar. Esse vazio teremos eternamente nas nossas vidas.”
A servidora pública Agatha Arnaus, viúva de Anderson, disse que foi difícil ouvir o pedido de perdão dos acusados.
“Difícil ouvir um pedido de perdão de alguém que claramente, então tem arrependimento. Quem tem que perdoar é Deus ou qualquer coisa que ele acredite. Eu não perdoo nunca. Não perdoo. Eu tenho paz na minha vida, mas não preciso perdoar. Que eles eram assassinos a gente já sabia. Mas temos ex-parlamentares e ex-chefe de polícia que tem de ser responsabilizados. Eles gastavam dinheiro com isso em vez de olhar a população. A morte deles foi encomendada com dinheiro nosso”, disse ela.