O ex-presidente da Bolívia Evo Morales afirmou nesta segunda-feira (28) à Reuters que o atual governo de Luis Arce tem uma “conspiração obscura para destruí-lo”, em sua primeira entrevista a um veículo estrangeiro após o suposto ataque sofrido no último domingo (27).
Morales afirmou que foi alvo de uma tentativa de assassinato quando seu veículo foi atingido por tiros das forças de segurança do país. O governo boliviano negou as acusações, dizendo que o comboio do ex-presidente havia atirado contra policiais especiais antinarcóticos que realizavam uma patrulha.
Nesta segunda, Morales negou que sua equipe estivesse portando qualquer arma, chamou o episódio de “emboscada” e disse que a versão do governo é uma “montagem de mentiras”. “Eles atiraram nas rodas, nos pneus, o carro não conseguia andar”, disse.
O episódio marca um novo capítulo de tensão dentro do MAS (Movimento ao Socialismo), que foi dilacerado pela inimizade entre Morales e seu antigo protegido Arce.
O ex-presidente renunciou em 2019, após um resultado eleitoral contestado que mergulhou o país em turbulência. Arce foi eleito no ano seguinte, mas tem cada vez mais procurado se distanciar de seu antigo chefe.
“O governo de Lucho Arce preparou o plano obscuro para destruir Evo Morales politicamente, usando vários argumentos, tráfico de drogas, corrupção, terrorismo e outras questões”, disse Evo.
O ex-presidente evitou responsabilizar diretamente o antigo apadrinhado. Questionado se o ataque poderia ter sido realizado por indivíduos agindo sozinhos, declarou: “Não. Isso foi uma instrução do governo“. Até o momento, ele não forneceu evidências de sua acusação.
Em entrevista coletiva nesta segunda, o ministro do Interior, Eduardo del Castillo, disse que a unidade antidrogas realizava uma patrulha rodoviária padrão quando o comboio de Evo atirou na polícia e atropelou um policial. “Sr. Morales, ninguém acredita no teatro que o senhor encenou”, disse.
A Bolívia, que enfrenta uma crise econômica devido à diminuição das reservas cambiais, deve realizar eleições presidenciais no ano que vem. Evo, em um tom mais conciliador, afirmou: “Lucho quer ser presidente, vamos nos submeter a eleições internas, essa é a melhor maneira de resolver isso”. Impedido pela Justiça local de concorrer novamente por causa do veto à reeleição indefinida, Evo tenta reverter esse cenário em busca de um quarto mandato.