Para quem tem dificuldade de entender o que significa um relacionamento tóxico, a live conduzida por Pablo Marçal com Guilherme Boulos foi uma aula prática. Há os que argumentem que não restava ao candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo outra alternativa para conquistar os votos que ele não tem, a não ser meter um vonau goela abaixo e passar meia hora com o coach sem vomitar.
Relações abusivas são marcadas por controle, chantagem emocional, manipulação disfarçados de cuidado. Foi o que Marçal fez com Boulos ao assumir uma postura de respeito sem deixar de pontuar o tempo todo como ele era generoso ao propor aquele “debate”, no qual ele fez as regras e não perdeu nenhuma chance de chamar a atenção quando o outro saía da linha.
Marçal protagonizou uma das campanhas mais sujas dos últimos tempos. Xingou, atacou, inventou laudo, tentou incriminar Boulos, que aceitou uma sabatina que parecia uma provocação a começar pelo nome: “entrevista de emprego”. Na teoria, era uma oportunidade para o psolista provar o seu valor para o cargo, mas, na prática, foi um ambiente marcado pela toxicidade de relações na qual um tem mais poder do que o outro, onde o coach alternou ciclos de questionamentos e acusações veladas.
Pessoas tóxicas transformam tudo o que acontece sobre elas. Até na reta final de um segundo turno do qual não fazia parte, Marçal conseguiu concentrar todo o noticiário dos veículos tradicionais, sites, blogs, além da discussão nas redes sociais, sobre ele. Típico perfil controlador, manteve a conversa sempre no limite, como se esperasse que Boulos perdesse as estribeiras e mostrasse que é de fato o radical, o invasor de casas, como foi acusado ao longo da campanha.
Marçal usou o encontro para sinalizar ao eleitorado como é um sujeito equilibrado e democrático, afinal tinha se colocado à disposição. Quem acompanhou a live, pode ter ficado impactado com a aparente civilidade. De fato, não teve grito, xingamento ou cadeiras voando. Mas nas entrelinhas, o coach não perdeu uma oportunidade de criticar, desmerecer, distorcer fatos e tentar colocar Boulos numa posição de inferioridade moral e política.
Foi para manter sua visibilidade e mostrar que controla a situação que serviu essa trégua. Não fosse por isso, Marçal não teria avisado mais de uma vez que no futuro Boulos não terá o mesmo tratamento cordial, pontuando que era ele quem estava no controle do jogo, sinal clássico de manipulação emocional.
Boulos pode ter diminuído a rejeição e garantido alguns nulos para o adversário, como mostram algumas projeções. Ricardo Nunes pode ser reeleger, segundo as pesquisas. Mas quem ganhou mesmo essa eleição foi Pablo Marçal, que usou a “entrevista de emprego” para se candidatar à vaga de presidente em 2026.
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