Ganso volta para o segundo tempo e no primeiro toque na bola eu penso: ele voltou mordido com o penalsti perdido e ainda mais a fim de decidir esse jogo. Não se abalou, muito pelo contrário. Vai pegar para ele a responsabilidade.
E é exatamente o que Ganso faz. Com dois passes absolutamente geniais ele decide o Fla-Flu. Um deles, feito de costas para o lance. O outro, convidando o volante a virar ponta. Fluminense dois, Flamengo zero.
Ganso é um fora-de-série, um gênio, um poeta. Mas é um jogador considerado lento e pouco marcador para o tedioso futebol moderno. Não é, pela avaliação liberal feita sobre o jogo, eficiente. Eficiência. Que palavra horrorosa.
O que é ser eficiente? É, nesse mundo do avesso, dar resultado. Eficiência é o oposto de poesia se por poesia a gente compreender o sentimento que temos em relação a coisas, a circunstâncias, a ocasiões.
Ganso joga sem bola, joga por música, joga de costas, joga de lado, joga abrigando as coisas mais sagradas que existem. O respeito que ele tem pelo jogo poucos ainda têm.
Mas Ganso não serve mais para esse jogo de eficiência e resultados. Não pode ser convocado porque é lento e não marca. Nada disso é verdade. Ele não é lento, ele apenas sabe quando correr, quando parar, quando desacelerar, quando marcar e quando não marcar para se manter livre para receber a bola.