No cenário atual do streaming, o Brasil se destaca com produções que exploram crimes reais, e “Maníaco do Parque”, disponível no Prime Video a partir desta sexta-feira (18), é um exemplo contundente dessa tendência. Dirigido por Maurício Eça, o filme revive um dos casos mais notórios do país: os assassinatos perpetrados por Francisco de Assis Pereira, que aterrorizou São Paulo nos anos 90. Com uma proposta que mescla elementos de horror e crítica social, o longa se debruça sobre a brutalidade dos atos do serial killer, enquanto busca destacar a voz das mulheres vítimas de sua violência.
A produção mergulha na história do maior serial killer brasileiro, o motoboy Francisco, interpretado por Silvero Pereira, que foi acusado de atacar 21 mulheres, assassinando dez delas e escondendo os corpos no Parque do Estado, em São Paulo. Os detalhes da psicopatia do assassino são revelados por Elena, vivida por Giovanna Grigio, uma repórter iniciante que vê na investigação dos crimes a grande chance de alavancar sua carreira. Enquanto Francisco permanece livre e continua a atacar mulheres, sua notoriedade na mídia sensacionalista cresce vertiginosamente, gerando terror na capital paulista.
A interpretação de Silvero Pereira como Francisco é um dos grandes atrativos da produção. Sua atuação consegue capturar a essência perturbadora do personagem, que alterna entre o carisma de um motoboy aparentemente comum e a frieza de um psicopata. Entretanto, o filme opta por revelar sua natureza criminosa logo nos primeiros minutos, o que pode comprometer o desenvolvimento do suspense. A escolha de iniciar com uma sequência enérgica, onde Francisco patina pelas ruas de São Paulo ao som de um rock vibrante, pode desviar a atenção do público do horror que se avizinha, estabelecendo um contraste desconcertante entre a jovialidade e a malignidade.
O foco na repórter Elena, interpretada por Giovanna Grigio, busca inserir uma perspectiva feminina em meio a uma narrativa marcada por violência de gênero. Elena, uma novata no extinto “Notícias Populares”, enfrenta o machismo de uma redação dominada por homens, tentando conquistar seu espaço em uma história que a maioria dos editores desdenha. A dinâmica entre Elena e seus colegas, incluindo personagens como Zico (Bruno Garcia) e Vicente (Marco Pigossi), proporciona uma crítica pertinente ao ambiente profissional da época, revelando como a voz das mulheres frequentemente era silenciada. Contudo, a construção de sua trajetória parece escorregar em clichês de narrativas policiais, como o famoso “mapa dos crimes” colado na parede do apartamento da protagonista, que em vez de acrescentar profundidade, acaba por parecer um recurso didático.
Enquanto a direção de Eça é eficiente ao recriar a atmosfera tensa da São Paulo dos anos 90, o roteiro, assinado por L.G. Bayão, peca pela falta de clareza nas motivações de seus protagonistas. Embora a intenção de honrar a memória das vítimas seja nobre, o filme luta para equilibrar a exploração do horror com a necessidade de transmitir a complexidade emocional de seus personagens. A relação entre Elena e Francisco tem o potencial de remeter a duelos clássicos do gênero, como o de Clarice Starling e Hannibal Lecter, mas acaba perdendo força na superficialidade de seus diálogos.
Além disso, o longa se desvia para um final que, embora otimista, parece destoar da gravidade da história. O tom mais leve contrasta com o passado sombrio de Francisco, que pode ser liberado em 2028, mas a decisão de encerrar a trama em um caminho mais seguro retira a urgência e a provocação que um crime desse porte merece. Mesmo assim, “Maníaco do Parque” se afirma como uma vitrine do talento de Pereira e Grigio, cujas atuações, em meio a um enredo controverso, conseguem prender a atenção do espectador.
Conclusão
Ao final, o filme, mesmo com suas falhas, cumpre o papel de trazer à tona uma história que precisa ser contada, ressaltando a importância das vozes que frequentemente são silenciadas pela cultura de violência. “Maníaco do Parque” é um convite a refletir sobre um passado sombrio, ao mesmo tempo que nos lembra da luta incessante por justiça e memória em um Brasil que ainda vive as consequências de suas histórias.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Mauricio Eça;
Roteiro: L.G. Bayão;
Elenco: Silvero Pereira, Giovanna Grigio, Mel Lisboa, Bruno Garcia, Augusto Madeira, Bruna Carvalho;
Gênero: Drama policial, Biografia;
Duração: 98 minutos;
Distribuição: Amazon Prime Video;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z