Já imaginou colocar uma boia salva-vidas acreditando que ela vai protegê-lo de todas as ondas e perigos do mar? E se, no meio da travessia, você perceber que ela só ajuda a flutuar, mas não elimina os desafios das correntes? Muitas vezes, é assim que investidores enxergam ações de dividendos: como uma proteção absoluta contra as oscilações do mercado. Mas será que elas realmente oferecem essa segurança?
Existe uma crença popular de que ações pagadoras de dividendos são mais seguras, quase como uma alternativa conservadora dentro do mercado de ações. Mas, ao analisarmos os dados, essa ideia começa a perder força. Para entender melhor, podemos observar a correlação entre o índice de ações pagadoras de dividendos, o IDIV, e o Ibovespa. Desde janeiro de 2006, a correlação dos retornos mensais entre esses dois índices é de impressionantes 91,25%. Isso significa que, na grande maioria das vezes, os dois índices se movem na mesma direção.
A correlação é uma estatística que mede a relação linear entre duas variáveis. Essa medida estatística varia entre -1 e +1, sendo que +1 indica que os ativos sempre se movem na mesma direção, enquanto uma correlação de -1 significa que seus movimentos são sempre em sentidos opostos.
No caso do IDIV e do Ibovespa, essa correlação próxima de 1 sugere que, quase sempre que o Ibovespa sobe ou cai, o IDIV tende a fazer a seguir o mesmo movimento. No entanto, é importante destacar que a correlação não mede a intensidade dessas variações. Assim, embora o IDIV tenha mostrado quedas historicamente menores que as do Ibovespa, ele ainda acompanha o mercado em momentos de baixa.
O gráfico abaixo compara os retornos mensais dos dois índices desde 2006 e deixa isso claro. As oscilações seguem padrões muito semelhantes, indicando que o IDIV não é imune aos movimentos de mercado. Sua característica diferenciada é que ele, geralmente, cai menos que o Ibovespa em períodos de crise, o que pode dar a sensação de maior estabilidade quando avaliado no longo prazo. No entanto, isso não o torna um investimento conservador.
Essa dinâmica também se repete internacionalmente. Nos Estados Unidos, o índice de ações de dividendos apresenta uma correlação de 88,73% com o S&P 500. Assim como no Brasil, essas ações tendem a acompanhar os movimentos do mercado mais amplo, sendo igualmente influenciadas por fatores macroeconômicos, como taxas de juros, inflação e crescimento econômico.
Portanto, é crucial lembrar que o preço dessas ações pagadoras de dividendos também está sujeito a oscilações significativas, especialmente em momentos de turbulência no mercado.
Para investidores que buscam segurança, é fundamental entender que ações de dividendos não oferecem uma proteção absoluta. Elas continuam sendo ações e, por isso, estão expostas a riscos. Para quem realmente busca mais estabilidade, ativos de renda fixa ou alternativas menos correlacionadas ao mercado de ações podem ser mais adequados.
O que diferencia as ações de dividendos é sua capacidade de mitigar um pouco a intensidade das quedas. Mas essa característica não elimina o risco de mercado. A escolha de incluir esses ativos em sua carteira deve levar em conta seu perfil de risco e objetivos de longo prazo, sem cair na armadilha de acreditar que elas são “sem risco”. Avalie como elas se comportaram em momentos de crise e como se encaixam no seu portfólio. Entender as verdadeiras características desses ativos é o primeiro passo para tomar decisões financeiras mais bem fundamentadas.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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